Exposição Cartografia militar de Abrantes: séculos XVIII a XX, de José Vieira
José Manuel D’Oliveira Vieira, sargento-mor de infantaria, nasceu em Abrantes, em 1947. Fez quase toda a sua carreira militar no Regimento de Infantaria N.º 2. Durante a guerra colonial foi mobilizado para Angola e Moçambique.
Depois de passar à reserva, em 2000, interessou-se pela história de Abrantes, especialmente militar, publicando artigos no “Jornal de Alferrarede” e no seu Blog “Coisas D’Abrantes”.
Durante a pesquisa para uma “História Militar de Abrantes”, o acervo “Cartas e Plantas Militares, DIE - Espólio da Engenharia Militar Portuguesa”, permitiu-lhe conhecer o trabalho do Real Corpo de Engenheiros, na construção e consolidação de fortalezas e pontes na praça de Abrantes, antes, durante e depois das Invasões Francesas.
A cartografia agora apresentada, de 1700 a 1927, resulta dessa pesquisa. Agradece-se a José Vieira o valioso contributo para um melhor conhecimento da Abrantes militar, faceta determinante da própria fisionomia da vila, ao longo dos últimos trezentos anos.
Nela se obtém informação relativa à sua defesa: fortificações, construções militares, pontos defensivos ou militarmente importantes, pontes sobre o Tejo e sua defesa, paióis, unidades aqui aquarteladas, levantamentos do território envolvente e possíveis itinerários de aproximação de inimigos; mas também sobre aspetos colaterais como detalhes toponímicos, construções religiosas e vernáculas de destaque, detalhes de natureza demográfica ou económica.
A coleção documenta um suceder de unidades militares de grandes efetivos, portuguesas e estrangeiras, em Abrantes, considerada importante praça de guerra, abrindo caminho à compreensão de um quotidiano marcado por uma sociabilidade fortemente influenciada por esse fator.
Documentam-se também aspetos relevantes para a logística e apoio às unidades militares e à vila, como as 69 cisternas existentes no início do século XIX, os fornos de cozer pão, armazéns e celeiros, hospitais militares, sistemas de esgotos, pormenores construtivos como a engenharia das asnas de madeira ou alçados de portões de ferro, ou detalhes da vida quotidiana dos militares, como as casas particulares assinaladas para o seu aboletamento e o desenho pormenorizado das tarimbas em que dormiam. Há ainda, entre outros aspetos, plantas das igrejas e conventos, com a evolução das alterações que foram sofrendo por intervenção da tropa, como é o caso do convento de S. Domingos.
Grande parte desta cartografia ressalta a existência de um perímetro muralhado que praticamente circundava toda a vila, com várias portas de entrada, e a persistência, durante mais de duzentos anos, de projetos para a sua consolidação, resultando no confronto com a realidade atual, a constatação de como um cego processo de modernização urbanística levou à sua destruição e consequente perda de significativas marcas visíveis da identidade militar abrantina e, também, do que hoje poderia ser um elevado fator de atratibilidade turística. Por isso, ver esta exposição é também uma possibilidade de nos interpelarmos sobre a forma como percorremos os caminhos entre o passado, o presente e o futuro.
Abrantes, Portugal
Todas as datas
- De 2019-08-09 00:00 a 2019-09-20 00:00
↳ segunda, terça, quarta, quinta & sexta